sexta-feira, 23 de julho de 2010

O município de Glória e o Raso da Catarina


O Raso da Catarina corresponde a uma área de aproximadamente 500.000 hectares, localizada em pleno nordeste da Bahia, ocupando um total de oito (8) municípios, entre os quais se encontra o município de Glória. A sua área está localizada sobre um platô próximo ao sub-médio São Francisco, como descreve ANDRADE (1998, p.44): “[...] Na realidade, o grande rio nordestino atravessa áreas das mais secas do Nordeste. Próximo a sua margem direita na Bahia, situa-se o famoso ‘Raso da Catarina’, conhecido por ser uma das áreas mais secas e despovoadas, hostis mesmo ao homem dos nossos sertões. [...]”

Segundo REIS (2004, p.79) existem duas versões para a origem do nome desse raso:

Há duas versões como parte do folclore regional para justificar o nome Raso da Catarina. A primeira: se deve a uma índia, por nome “Catarina”, pertencente a uma tribo indígena que vivia na área do Raso. “Conta-se que certo dia, esta índia saiu para catar lenha e que muito tempo depois encontraram apenas seus restos mortais. Em sua homenagem, seu povo passou a chamar a região de: Raso da Catarina”. A segunda: um grande proprietário de terras em Belo Monte de Canudos, coronel Ângelo Reis, teria denominado essa reserva de Catarina, depois da morte de sua esposa que possuía o mesmo nome. REIS (2004, p.79)

O município de Glória possui parte do seu território inserido no Raso Catarina, localizado a sudoeste, onde se encontra o povoado Brejo do Burgo, a área está situada na Reserva Indígena da Tribo Pankararé, com 17.924 hectares, demarcada recentemente pela Fundação Nacional de Índio – FUNAI em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA.
A demarcação da Reserva Indígena do Brejo do Burgo se arrastou durante muitos anos, pois juntamente com os índios habitavam aí, também os posseiros (brancos), gerando desta forma inúmeros conflitos ao logo do tempo pela posse dessas terras, sendo registrada algumas mortes de ambos os lados. Após a demarcação da reserva ficou estabelecido que os posseiros deveriam sair da área e que os mesmos também receberiam uma indenização, esta paga pelo Governo Federal. Atualmente poucos posseiros receberam essa indenização e deixaram de residir dentro da reserva, ou seja, mesmo depois da demarcação ainda existe um grande número de posseiros vivendo nessa área.
A presença humana, especialmente a indígena no povoado Brejo do Burgo e arredores do Raso é datada de pelo menos 200 anos atrás. Esta presença deve-se ao fato da existência de algumas fontes de água encontradas no local, que permitiu aos seus habitantes o plantio de algumas culturas, como o feijão, o milho, a mandioca e criação de animais como o bode, a vaca, etc. Além disso, o raso oferecia aos índios uma grande variedade de animais silvestres que são utilizados na sua alimentação, como também os frutos do umbu e do murici, isto em algumas áreas do raso, já que as demais apresentam características semelhantes à de um deserto como afirma REIS (2004, p.108):

[...] Se observamos as classificações climáticas mais conhecidas, o Raso é dominado por um clima que, em condições de aridez e desolação, é apenas superado pelos desertos quentes. Para os que conhecem outras áreas menos atingidas pela insolação certamente acredita que aquela é uma terra morta, local onde quase todas as oportunidades de uma vida foram postergadas.

Com características de clima semidesértico, predomina “inversões térmicas” bastante acentuadas, isto porque as temperaturas durante o dia raramente são inferiores a 40°C e a noite ficando entre 22°C e 15°C, não sendo difícil em alguns momentos alcançar 10°C, sendo assim justificada pelo fato da existência de rochas sedimentares, que originaram a camada superficial do terreno.

Adentrando ao centro do Raso as condições de vida é quase impossível, isto porque a água se torna uma coisa rara, com ausência de vegetação, existindo apenas algumas florestas de espinhos e urtigas, o que dificulta ainda mais o acesso a este local. Quando raramente ocorrem as chuvas, estas modificam totalmente a paisagem, que antes apresentava um aspecto desolador, ficando verde e acumulando água em caldeirões, o que ajudará bastante na sobrevivência dos animais que ali habitam.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ANDRADE, Manuel Correia. A terra e o homem no Nordeste: Contribuindo ao estudo da questão agrária no Nordeste. – 6ª ed – Recife : Editora Universitária da UFPE,1998.

REIS, Roberto Ricardo do Amaral. Paulo Afonso e o Sertão Baiano: Sua geografia e seu povo. 1ªed. Paulo Afonso-BA: Fonte Viva, 2004.

Créditos das imagens:
http://www.google.com.br/estacoes-ecologicas/estacao-ecologica-raso-da-catarina/

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